sábado, 10 de setembro de 2016

A Hipótese Lipídica

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Segundo a teoria tradicional, o denominado balanço calórico, ou seja, a quantidade de calorias ingeridas subtraída da quantidade de calorias gastas, seria o principal para se observar se quisermos manter a forma física e perder peso.

Pura e simples questão de matemática. Se o objetivo for emagrecer bastaria gastar mais calorias do que consumir e se quisermos engordar, faça o contrário.
É sabido que, nas últimas décadas, por causa da propaganda e até dos programas governamentais voltados à saúde, cada vez mais as pessoas estão se exercitando mais e comendo menos, ou seja, controlando, quase que insanamente, a quantidade de calorias ingeridas.

Então pergunta-se: qual é o retrato da saúde corporal das pessoas atualmente? Elas estão mais magras e saudáveis ou mais doentes e gordas?

Penso que a segunda alternativa é a que reflete o retrato da sociedade moderna. O que significa que há algo errado com a informação que nos foi passada, há mais de cinco décadas, de que é a falta de exercício e o fato de comermos demais provocaria o excesso de peso.

Voltemos na História.

Aproximadamente, em 1.850, o agente funerário aposentado inglês Willian Banting, gordo e portador de Diabetes, seguindo orientação de seu médico Willian Harvey, começou a seguir uma dieta de baixo teor de carboidratos e comer carnes e hortaliças, eliminando o açúcar, amido e grãos.

Já no século XIX, impressionado com os próprios resultados corporais, já que havia perdido cerca de 20 quilos em um ano e amenizado os sintomas da doença, elaborou os primeiros estudos e escreveu, em 1863, uma carta visionária obra intitulada "Uma Carta sobre a Corpulência” (Letter on Corpulence, Addressed to the Public). Banting morreu aos 81 anos, cuja longevidade superou a expectativa de vida média da época.

Aquele que seria o primeiro livro sobre dietas foi um sucesso imediato. Hoje, existe até o verbo "to bant", específico para se referir a fazer dieta.

Na mesma linha, Emett Densmore, em 1892, preconizava a abstenção da ingestão de amido (carboidrato).

Dando um salto no tempo, agora já no século XX, Alfred Pennington (1940 – 50), em seus estudos, principalmente na experiência vitoriosa feita na empresa DuPont, em 1944, proclamava que para manter a saúde a pessoa poderia comer carne a vontade, mas que evitasse pão, farinha, açúcar, sal e álcool.

Ou seja, dietas que preconizavam o baixo consumo de carboidratos nunca foi novidade e as teorias existem há mais de 100 anos.

Então, o que mudou?

Até 1960 o senso comum recomendava que para não engordar e manter um corpo saudável evite batatas, massas, pães, farináceos e grãos. Naquela época não havia a atual epidemia de obesidade e a recomendação para se evitar o excesso de carboidratos é antiga.

Em 1953, nos Estados Unidos, Ancel Benjamin Keys, biólogo e patologista da Universidade de Minesota, influente, utilizando a revista “Circulation”, deu uma resposta que a população buscava sobre o motivo pelo qual tantos americanos estavam morrendo do coração. 

Bom lembrar que o presidente americano Dwight D. Eisenhower enfartou, pela primeira vez, em 1955 (mesmo com um colesterol normal em 165 mg/dL), estabelecendo uma crise nacional onde as pessoas estavam ávidas por respostas nutricionais. Era assistido pelo médico Paul Dudley White, famoso professor de Harvard, fundador da AHA (American Heart Association) que depois teria uma posição de destaque e apoio às ideias revolucionárias e não comprovadas de Keys.

Baseando-se em um falho estudo gráfico observacional/epidemiológico, comparou, estrategicamente para comprovar a sua teoria, desprovida de estudo científico confiável, que em alguns países ("O Estudo dos Sete Países", como ficou conhecido) as mortes cardíacas eram causadas predominantemente pela ingestão de muita gordura. Simploriamente, sem qualquer rigor científico, ele mesmo estabeleceu uma correlação entre consumo de gordura e índice de mortalidade.

Antes, porém, Keys acreditava na relação causal direta entre a gordura na dieta, o colesterol no sangue e as doenças cardíacas. Em 1952 ele apresentou, formalmente, em Nova York, o que chamou de "hipótese dieta-coração". Seu gráfico indicava uma suposta correlação entre o consumo de gordura e a morte por doenças coronarianas em seis países (Estados Unidos, Itália, Inglaterra, Austrália, Canadá e Japão). Keys acreditava que, além da aterosclerose, a gordura também engordava as pessoas.

Keys deliberadamente ignorou os chamados "cisnes negros" que pudessem provar que sua hipótese estava errada. Posteriormente, comprovou-se que o estudo era uma fraude e que ele havia trapaceado, porque existiam outros 22 países no estudo que foram deliberadamente excluídos da conclusão. 

Na verdade, esta teria (de que a gordura saturada animal e o colesterol eram os responsáveis pelo aumento das doenças cardíacas) sido uma das maiores fraudes proclamadas e seguidas no mundo, uma vergonhosa enganação científica. 

Na verdade, tamanha era a influência política de Keys e seus seguidores, que qualquer um que tentasse desacreditar a sua teoria corria o risco de ser desmoralizado e desacreditado publicamente, como ocorreu com John Yudkin, professor de fisiologia na Universidade de Londres, que combatia o açúcar e não a gordura.

Mas a despeito de todas as críticas da época, Keys, prestigiado, tornou-se líder na pesquisa americana sobre nutrição. Foi capa da prestigiada revista “Time”, em 1.961, sob o título "A gordura saturada vai te matar".

Formulou a chamada "hipótese lipídica", ou seja, que todo o mal da alimentação provinha da gordura, cuja propaganda prevaleceu de 1950 a 1990. Estava instalada as décadas de fobia da gordura e do colesterol. A recomendação passou a ser para as pessoas n (ão comerem gorduras saturadas (ovos, leite, laticínios, carnes) e passem a ingerir óleos vegetais (gordura poliinsaturadas), carboidratos e açúcar. Estava instalada a era "low fat".

Em 1977 a Comissão de Nutrição e Necessidades Humanas do Senado americano, sob a presidência do senador George McGovern (pelo Estado de Dakota do Sul), começou a examinar a questão da dieta e sua possível relação com as doenças nos Estados Unidos. 

Esta Comissão era composta - pasmem - simplesmente por advogados e ex-jornalistas (como Nick Mottern e Marshall Matz) que pouco sabiam sobre nutrição.

A Comissão adotou a ideia preconizada por Ancel Keys e orientou toda a política pública americana e ações governamentais sobre o que as pessoas deveriam comer.  A partir de então, a recomendação de cortar a gordura saturada virou dogma na sociedade.

O mencionado senador, no afã de logo concretizar a "demonização da gordura", dizia que era hora de agir para combater um problema urgente de saúde pública. Apressadamente, sem uma fundamentação científica formal, ele proclamou que "Não podemos nos dar ao luxo de esperar provas conclusivas antes de corrigir tendências que cremos ser prejudiciais".

Desta forma a Dietary Goals for Americans transformou-se no mais influente documento oficial que falava sobre alimentação e doenças.

Ao final, em 1980, a USDA, tomando como base o mencionado guia alimentar, formulou a Pirâmide Alimentar - a diretriz nutricional de alimentação (cuja base era consumo elevado de carboidratos (6 a 11 porções por dia). Hoje chama-se, nos EUA, "my plate". No topo estava a gordura, então demonizada. Na verdade, esta acabou se tornando uma verdadeira receita para a obesidade.

Ao que consta, seria o cigarro e a ingestão imoderada de carboidratos/açúcares (principalmente pelas pessoas predispostas geneticamente), e não a gordura saturada, quem matava os americanos na década de 1950, de ataque cardíaco. Era isto que Keys deveria ter respondido para a sociedade da época.

A teoria, no entanto, teria se revelado um fiasco, baseado em uma má Ciência (estudo observacional de voluntários) ao invés de um estudo clínico. Mirou o alvo errado. Até porque muitas pessoas sofrem ataque cardíaco teriam o colesterol baixo ou normal (como o citado presidente americano) e outras, com colesterol alto, nunca enfartaram.

É fato que nas décadas seguintes, até hoje, provando que algo estava errado com nossa dieta, as epidemias de diabetes, obesidade e doenças crônicas explodiram nos Estados Unidos.

Em outro post foi abordada sobre a possível origem da doença coronariana, que seria iniciada por processo inflamatório da artéria, causada, provavelmente, pelo uso do cigarro, açúcar elevado no sangue e stress.

Devido a prevalência da hipótese lipídica, toda a industrial começou a se movimentar e a oferecer aos consumidores produtos diet, light, low fat etc. Naturalmente que retirando a gordura natural dos alimentos, estes ficaram insossos. 

Aquela diretriz alimentar ainda é a recomendação oficial, aplicada pelos profissionais da saúde e ensinada às crianças nas escolas ...

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